02/08/2013

Um novo método de investigar o mundo

Posted in Uncategorized às 15:18 por nosporoesdacienciamoderna

 

“Embora a caracterização precisa do novo método de investigação exija detlhamentos que não faremos aqui, dois de seus traços fundamentais merecem destaque: a experimentação e a matematização.

Os responsáveis pela criação da ciência moderna, entre os quais se destaca a figura de Galileo Galilei, acreditavam que os estudos anteriores em filosofia natural exibiam uma dependência excessiva de especulações metafísicas e um apego ilegítimo à opinião de autoridades, particularmente Aristóteles, cujas doutrinas dominavam a cena filosófica havia mais de 1800 anos. Os novos filósofos contrapunham a isso a observação da própria natureza. É nessa observação – a experiência – que se encontrariam os verdadeiros fundamentos do conhecimento da natureza.

Na constituição da nova ciência, tão importante quanto assentar as bases do conhecimento na experiência foi obter essa experiência de forma controlada e sistemática, por meio daquilo que se chamou experimentos. Para tomar um exemplo famoso daquela época, sabe-se que Galileo concebeu vários desses experimentos para observar como os corpos pesados caíam. Para ele, não bastava soltar uma pedra e olhar sua descida. Ele queria saber quantitativamente como ela o faz. Para tanto, concebeu o famoso experimento do plano inclinado, descrito em seu livro Discursos e Demonstrações Matemáticas sobre Duas Novas Ciências (1638). Com a inclinação, retarda-se a queda, facilitando a medição de tempos e distâncias. Esse experimento comprova a lei galileana da queda dos corpos, segundo a qual na queda o corpo percorre distâncias proporcionais ao quadrado dos tempos de queda.

Esse exemplo ajuda a ver vários outros pontos importantes na nova abordagem.

O primeiro é que um experimento só é concebido com vistas ao esclarecimento de um dado problema, previamente configurado na tradição de investigação. Nesse caso, o problema era dado pela suspeita de Galileo de que a tese aristotélica de que os corpos mais pesados caem mais rápido do que os mais leves estava errada. O experimento de Galileo permite resolver essa dúvida de forma objetiva.

Um segundo ponto é que os dados brutos de um experimento são pouco ou nada significativos se não forem refinados intelectualmente. No exemplo em análise, devese, para chegar à lei de Galileo, “descontar” a interferência de causas espúrias, como o atrito e a imperfeição dos relógios da época (batimento do pulso e relógio d’água, inicialmente). Fazer isso sem mutilar fundamentalmente os resultados é algo que exige perícia e verdadeira genialidade.

Por fim, o exemplo destaca o segundo dos grandes traços da nova ciência, mencionados acima, a preocupação em obter uma descrição quantitativa dos fenômenos, por meio de sua matematização. Vale notar, como contraste, que na visão aristotélica, nem mesmo a física poderia ser matematizada. As leis físicas assumiam, segundo Aristóteles, um caráter puramente qualitativo”.

 

Texto escrito pelo Prof. Dr. Silvio Seno Chibeni, do Departamento de Filosofia, Unicamp

Leia mais em http://www.unicamp.br/~chibeni/textosdidaticos/cienciaorigens.pdf